domingo, 3 de março de 2013

especifidades da construção em palha

Há registos que apontam para o uso da palha como material de construção desde o Paleolítico. No entanto, a invenção da prensa, no século XIX, permitiu a produção de fardos de palha de dimensões standardizadas, uma inovação que facilitou os processos construtivos.

A palha permite uma economia de tempo na sua construção, dependendo do sistema estrutural utilizado. Os fardos podem ser auto-portantes ou servir como enchimento das paredes. Actualmente, porém, têm-se criado sistemas modulares, que permitem o uso da palha em edifícios improváveis, em locais como o centro de Amsterdão.

Apesar de haver edifícios de diferentes escalas e tipologias disseminados um pouco por toda a europa setentrional, existe um misto de desconfiança e curiosidade pelo material. Trata-se talvez de uma inevitabilidade, pois que esta é quase uma novidade em Portugal.

Há ideias que convém desmitificar: a de que a palha pega fogo, apodrece com facilidade, é um ninho de ratos e é pouco resistente. Antes pelo contrário. Se for bem utilizada, não só é resistente a incêndios, mas também garante isolamento térmico e protecção contra as intempéries.

A palha deve ser presa por cintas ou varas e o reboco deve ter a espessura suficiente. Há que acautelar também o aumento das dimensões do beiral do telhado, afim de proteger a fachada exterior das chuvas. É prática comum em quintas empilhar fardos de palha junto à fachada dos edifícios já existentes, para aumentar o isolamento térmico, sem qualquer protecção às intempéries. Um reboco porém protege os fardos de palha, garantindo assim uma grande durabilidade.

Catarina Pinto chamou a atenção para a diferença entre palha e feno: o fardo de palha não deve conter sementes e deve ser de trigo ou centeio, desaconselháveis para construção. Com este material, pois, já se construíram edifícios de diferentes escalas e tipologias: desde uma biblioteca no Reino Unido, a um edifício habitacional de quatro pisos numa aldeia dos Alpes italianos. A palha ocuta faz milagres!

Entre os trunfos do material conta-se o seu custo baixo no final da obra (comparável com o da alvenaria). Mas as principais vantagens residem na sustentabilidade dos recursos e no ciclo de vida do material. Consome-se bastante menos energia que na produção de betão e, durante o uso, o isolamento térmico garante uma redução da necessidade de aquecimento do espaço interior.

Todavia permanecem alguns entraves. Para além de haver menos mão-de-obra qualificada, a construção é mais morosa, principalmente se tivermos em conta o reboco. No que diz respeito ao licenciamento, não existe ainda legislação disponível. Só disseminando o uso da palha como material de construção conseguiremos contornar o actual vazio regulamentar, o desconhecimento e o preconceito.


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